Chefe das Nações Unidas avalia resultados de relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial; esforços precisam ser sete vezes maiores para alcançar as metas do Acordo de Paris; últimos sete anos foram os mais quentes já registrados.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, avalia que o mundo “vai na direção errada” na questão climática. Ele comentou os resultados do relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, nesta terça-feira.
Para Guterres, as enchentes, secas, ondas de calor, incêndios e tempestades extremas que só pioram e batem recordes são “o preço da dependência de combustíveis fósseis”.
Metas mais ambiciosas
O relatório mostra que as concentrações de gases de efeito estufa continuam subindo em níveis recordes: as taxas de emissão de combustíveis fósseis estão agora acima dos níveis pré-pandêmicos após uma queda temporária. A ambição das promessas de redução de emissões para 2030 precisa ser sete vezes maior para estar de acordo com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
Segundo o levantamento da OMM, sem uma ação muito mais ambiciosa, os impactos físicos e socioeconômicos das mudanças climáticas serão cada vez mais arrasadores.
A publicação aponta que os últimos sete anos foram os mais quentes já registrados e existe uma chance de 48% de que, durante pelo menos um ano nos próximos cinco anos, a temperatura média anual seja temporariamente 1,5°C superior à média de 1850-1900.
O alerta da OMM é que, à medida que o aquecimento global aumenta, “pontos de inflexão” no sistema climático não podem ser descartados.
Impacto aos mais vulneráveis
O documento também revela que as cidades que abrigam milhões de pessoas, responsáveis por até 70% das emissões produzidas por ação humana, enfrentarão impactos socioeconômicos crescentes. As populações mais vulneráveis sofrerão mais, afirma o relatório que dá exemplos de climas extremos em diferentes partes do mundo este ano.
Segundo o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, a ciência do clima é cada vez mais capaz de mostrar que muitos dos eventos climáticos extremos que o mundo enfrenta se tornaram mais prováveis e mais intensos devido às mudanças climáticas induzidas pelos humanos.
Ele citou os episódios deste ano e afirmou que é fundamental intensificar os sistemas de alerta precoce para construir resiliência aos riscos climáticos atuais e futuros em comunidades vulneráveis.
Adaptação e mitigação
O chefe da ONU apresentou dados que reforçam a posição de Taalas: o número de desastres relacionados ao clima aumentou cinco nos últimos 50 anos e as perdas diárias já podem superar US$ 200 milhões.
Guterres afirma que os resultados da pesquisa da OMM é um lembrete vergonhoso de que a construção de resiliência é a metade negligenciada da equação climática.
Para ele, é “escandaloso” que os países desenvolvidos não tenham levado a sério a adaptação e tenham “desprezado seus compromissos de ajudar o mundo em desenvolvimento”.
O secretário-geral das Nações Unidas lembrou que as necessidades de financiamento de adaptação devem crescer para pelo menos US$ 300 bilhões por ano até 2030.
Guterres esteve recentemente o Paquistão, onde disse que testemunhou a destruição causada pelas inundações. Assim, ele destacou a importância de garantir que pelo menos 50% de todo o financiamento climático seja destinado à adaptação.
Principais resultados do relatório
- Níveis atmosféricos de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) continuam a aumentar. A redução temporária das emissões de CO2 em 2020 durante a pandemia teve pouco impacto no crescimento das concentrações atmosféricas – o que permanece na atmosfera depois que o CO2 é absorvido pelo oceano e pela biosfera.
- As emissões globais de CO2 fóssil em 2021 retornaram aos níveis pré-pandêmicos de 2019 depois de cair 5,4% em 2020 devido a bloqueios generalizados. Dados preliminares mostram que as emissões globais de CO2 em 2022, de janeiro a maio, estão 1,2% acima dos níveis registrados no mesmo período de 2019, impulsionadas por aumentos nos Estados Unidos, Índia e na maioria dos países europeus.
- Os últimos sete anos, de 2015 a 2021, foram os mais quentes já registrados. A média global da temperatura média de 2018–2022 (com base em dados até maio ou junho de 2022) é estimada em 1,17 (cerca de 0,13°C) acima da média de 1850–1900.
- Cerca de 90% do calor acumulado no sistema terrestre é armazenado no oceano, o teor de calor do oceano para 2018-2022 foi maior do que em qualquer outro período de cinco anos, com as taxas de aquecimento dos oceanos mostrando um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas.
- Novas promessas nacionais de mitigação para 2030 mostram algum progresso na redução das emissões de gases de efeito estufa, mas são insuficientes. A ambição dessas novas promessas precisaria ser quatro vezes maior para limitar o aquecimento a 2°C e sete vezes maior para chegar a 1,5°C.
Matéria e imagem: ONU